O FESTIVAL LITERÁRIO DE PEIXINHOS refletirá e celebrará a literatura na periferia – também chamada marginal – e sua interface com a COMUNICAÇÃO VIRTUAL – novos canais de comunicação. Terá a duração de três dias com ações em torno da atividade literária como mesas redondas, batepapos, mostra de experiências literárias, mostra de cinema e literatura, apresentações culturais, exposição artes plásticas e literatura, concurso de poesia, lançamentos de livros, recitais, workshops de estímulo à leitura e contação de estórias para educadores.
O Festival será realizado no Nascedouro de Peixinhos, com entrada gratuita e pretende envolver todo o entorno deste local, mostrando a forte influência da poesia nos bairros de periferia. Escolas serão convidadas à participar de todas as atividades literárias que serão desenvolvidas ao logo dos três dias.
O PORQUÊ DO FESTIVAL EM PEIXINHOS?
Olinda, apesar de ser muito conhecida pela sua cultura popular, em virtude de seu efervescente carnaval, é celeiro de diversas outras artes. A literatura está presente na vida da cidade, através da atuação de associações e entidades de estudo (Sociedade dos Poetas Vivos de Olinda, Academia Olindense de Letras, Instituto Histórico de Olinda), além de movimentos populares de incentivo à leitura (Boca do Lixo). Este último movimento nasceu em Peixinhos, zona limítrofe entre Recife e Olinda. Beirando o rio Beberibe, essa comunidade está marcada pelos estigmas do preconceito social e da violência.
Atualmente, Peixinhos tem como atrativo principal o comércio diversificado, representado tanto pela Feira de Peixinhos quanto pela quantidade de lojas instaladas na Avenida Presidente Kennedy, principal via de acesso ao bairro. A forma desordenada de ocupação do espaço levou Peixinhos a ter problemas estruturais, como a maioria dos bairros periféricos urbanos. Problemas como falta de pavimentação das ruas, energia elétrica, espaço público para lazer, entre outros, podem ser visto claramente quando andando pelas ruas, vielas e becos do bairro.Isso não impediu que as manifestações culturais crescessem no local e que se expandissem em todas as formas. Apesar das condições duras, a tradição artístico-cultural dessas pessoas forçou o aparecimento de uma vasta produção cultural; Hoje Peixinhos, apesar de reduto da pobreza, é também um espaço rico em grupos artísticos (AZEVEDO, 2009).
Nesse bairro, periferia de Olinda e Recife, existe incontáveis manifestações culturais que representam como vivem as pessoas que moram no local. A exclusão social do mundo capitalista serve de temática para a construção de uma arte alternativa, engajada, tradicional e contemporânea ao mesmo tempo. O bairro é celeiro de diversos movimentos, desde escritores até artistas digitais; na região, ONGs realizam projetos de inclusão social e digital. Segundo o Censo Demográfico de 2000, Peixinhos é o segundo maior bairro de Olinda, sua localização está entre os municípios de Olinda e Recife. O nome do bairro derivou da referência que os primeiros moradores do local faziam a um rio que passava ao lado da comunidade. O rio era muito utilizado pelos moradores tanto para lavar roupas, tomar banho, quanto para pescar os "peixinhos" abundantes no local. Posteriormente, descobriu-se o nome do rio, Beberibe, mas a referência ao "rio dos peixinhos" já fazia parte do imaginário social dos moradores do local (De Paula, 2000:15-16). A formação e desenvolvimento do bairro tiveram início na construção do Matadouro Industrial de Olinda, iniciada em 1874 e finalizada em 1919. O Matadouro, encerrou suas atividades 1970. Atualmente, com outro nome, o Nascedouro de Peixinhos favorece a realização de várias atividades culturais nos seus espaços para dar suporte ao ritmo forte desta comunidade em expressar suas manifestações artísticas e culturais.
LITERATURA DE PERIFERIA E NOVAS TECNOLOGIAS
A literatura marginal ou de periferia é hoje aceita pela crítica como a feita por escritores que estão à margem da indústria editorial; ou seja, os que não conseguem se projetar, principalmente por meio da publicação de seus trabalhos. Há uma diferença entre ser poeta marginal e maldito. O marginal é um fenômeno característico do século XX. Já o maldito situa-se no contexto da poesia romântica européia do século XIX. Poète maudit (em francês: poeta maldito). Os escritores do Romantismo utilizaram o termo, aplicando-o a François Villon (1431-1474), considerado, por isso, como sendo o primeiro poeta maldito da história da literatura.
Diferentemente dos marginais do Sudeste, que criaram uma estética que se contrapunha ao racionalismo/intelectualismo vigente nos anos 50 e começo dos 60 no Brasil, os poetas marginais recifenses representam a continuidade do movimento da década anterior: o dos Escritores Independentes. Ainda sob o estigma da ditadura militar, que já dava sinais de saturação, Francisco Espinhara, Lara, Cida Pedrosa, entre outros, reuniam-se em bares no bairro da Boa Vista, Centro do Recife (Beco da Fome e Casarão 7, ao lado da Livraria Livro 7, na Rua Sete de Setembro). Acolhendo influência de poetas, Lautreamont, Neruda, entre outros, fizeram parte de um contexto histórico de luta política, censura, repressão, que foi a ditadura militar, de 1964 a 1985.
Nesse contexto, a internet é sem dúvida outro fator consolidador dessa tendência de segmentação ou democratização da literatura, ajudando-a a sair dos cânones sagrados e colocando-a ao alcance de qualquer um – desde que tenha acesso á rede, é claro. Embora hoje somente 10% da população brasileira tenha acesso regular á internet, ela destacou-se, nos últimos tempos, como instrumento de democratização e fruição literárias, através do surgimento de inúmeros sites, blogs e livros virtuais, disponíveis a quaisquer pessoas do mundo, possibilitando que escritores anônimos, distantes das grandes editoras e dos círculos literários oficiais, tenham possibilidade de levar a público suas produções.
O advento das comunicações digitais (blogs, sites, e-books, prensagens de CDs) ou mesmo tecnologias que proporcionam maior acesso às publicações (as gráficas rápidas) estão se constituindo num espaço democrático de fruição literária, onde os escritores, jovens ou não, podem publicar seus trabalhos sem o beneplácito de editores tradicionais ou mesmo do Estado. É bem verdade que a inclusão digital ainda é insuficiente. Mas muitos, mesmo com dificuldades das mais diversas, ainda conseguem, através de lan houses ou laboratórios do governo, acesso à produção e a publicação de suas sobras.
O objetivo do Festival Literário de Peixinhos será o intercâmbio entre escritores da comunidade e outros mais experientes, numa profícua troca de saberes literários Haverá também a participação da academia, como laboratório de constantes pesquisas, e que recentemente se abriu para esse fenômeno da era digital. Tais atividades se fazem necessárias, pois o advento das novas tecnologias trouxe maiores facilidades de PRODUÇÃO e DIFUSÃO CULTURAL, interferindo diretamente no ACESSO do escritor a novos mercados e a novas ferramentas de divulgação de suas obras, via novas mídias (gráficas rápidas, CD-ROOM, BLOGS, sites, livros virtuais, etc).
O diferencial desse evento, e a necessidade de sua realização, estão justamente no ineditismo da proposta: discutir LITERATURA, PERIFERIA e NOVAS MÍDIAS. Pelo menos, na Região Nordeste, não se tem notícia de eventos similares.
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